Nada
Eu sou o nada
E o todo veio de mimSou o desprezo que você ostenta
A causa de sua demência
A indiferença, que não guarda por fim
Sou o não digno
O desamparadoO ambíguo
Sou o desprovido
O inseto atrevido
Sou a poeira que guarda em sua sola
A cabeça que você degolaO sangue que você derrama
O ninguém que você deplora
Os olhos, que você devora
Sou apenas um tipo que lhe incomoda
Que sendo nada, minha presença colheE ainda que em sua casta, me ignora
Estou por toda a parte
Do crepúsculo a aurora
Sou a fome, que não senta a sua mesa
O frio, que você não senteO medo que lhe é ausente
A falta, que não lhe é presente
A consciência, que lhe falta à mente
Eu sou o nada
E o todo veio de mimSou tudo o que não espera
Represento tudo o que você não quer
Faço tudo, o que jamais fará
Tenho em mim a causa que não é sua
Ilusões que não cultua
Força que não lhe habita
Virtudes de uma premissa
Razões de um otimista
Minha única esperança, é que olhe para mim
Veja o nada que me tornei, para dar-lhe o todo
Os restos que me vesti, para dar-me a ti
E a única coisa que lhe pedi
É que me trouxeste este nada, que fostes esse nada
E deste modo, chegar até mim
Luciano Andrade PATCHANNS











