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terça-feira, 26 de agosto de 2014


Navegante
 

Sou barco sem remos
Casa sem portas
Tenho dedos que não tocam
Janelas que olham

Acho que estou do outro lado
Penso em viver ao seu lado
Tenho pedras no sapato
Nas profundezas, sou raso

Minhas manhãs são eternas
Não me dou com a baderna
Caio de pé na pinguela
Gosto de Mortadela

O amor não me esgoela
Sou asas abertas
Não me estreito nas trevas
Sou o fundo da caverna

Minha alma perambula, sem corrigir sequelas
Tenha a perna dura
Coração mole
Pensamentos na lonjura

Na pequena porção, vejo a imensidão
Na atitude, recebo a absolvição
Na plenitude, sinto seu coração
E por isso, meus remos caíram das mãos


Luciano Andrade PATCHANNS

sábado, 23 de agosto de 2014


O Solitário


Teu nome vem antes de você
Seus amigos se encolhem
Circundam você
Essa multidão desértica


Sua fala tem ouvidos, e sorrisos
Tua vontade é uma realização
Festividades, em sua localização
E todos, querem estar com você
 

Mas o teu "Eu", vazio
Não conhece ninguém
Não ama ninguém
E nem a ti mesmo
 

Sua solidão é estar consigo
É ser você mesmo, no intimo
Aquilo que ninguém vê
Aquilo, que só você sabe
 
Luciano Andrade PATCHANNS

segunda-feira, 11 de agosto de 2014


Restos


Tenho um sentimento ilhado
Rodeado de frágeis e fracos
Do qual não entendo os pecados
Que sepultam seu gosto marcado
Por atos de desperdício, com o que não é necessário

Pilhamos nossas riquezas na lixeira da esquina
Fizemos do consumismo uma rotina
Carro novo todo ano, roupa nova p'ra festinha
Feriado, Carnaval, tudo tem sua continha

Esquecemos como coexistir com o necessário
E a demanda aumenta a cada seca do espraiado
Falta água na torneira, arroz no banhado
Falta coerência de quem faz da omissão, um risco desnecessário

Joga-se fora de um lado, passa-se fome do outro
Não deixamos para o amanhã, os restos de hoje
O bem durável passou a ser renovável
Troca-se tudo, antes de lhe ter acabado

E meu sentimento revoltado
Vai para o descaso, que no povo, vejo sacramentado
Deixando de pensar que tudo pode ir por água abaixo
Se não revermos nossa sede, por este consumo insensato

E ainda que nada lhe falte no presente
Nada, também lhe faltou no passado
Mas pode estar no futuro
A baixa demanda devido ao nosso descaso


Luciano Andrade PATCHANNS

domingo, 3 de agosto de 2014


Loucura

Havia ali uma desolação
Um gosto amargo que emerge da doçura
Um contraposto da primaria filosofia
Uma anarquia, que do caos, sobressai-se.


O silencio dos olhos, inquietantes...
A sorrateira decepção que não finda minha espera
Desdobra minhas certezas
E de um esboço, desenha-se minha fraqueza.
 

Não aceito minha loucura
Nem expresso minha certeza
Mas é certo que me entreguei aos loucos
Quando a solidão tomei, por avareza.
 

Estampidos de minha mente, sem abrigo
Impõe-me a noite fria, claustrofóbica
És minha miríade de ilusões
De uma infância sem sonhos, desilusões.
...

Meu descaso desonra minha memória
Minha insignificância ri de minha peleja
Penso estar acima, por de baixo ser...
Então, fustiguei minha alma.


Minha loucura não tinha lugar à mesa
Pus-me ali, elucidado de mentiras
Perturbei-me, me perdi...
Não sabia mais quem eu era, e nem porque sorriam para mim.


Meus braços entrelaçados, neste muro de presságios
Compõem-me um soneto, de desejos blasfemos
E vejo-me no espelho, monstruosa humanidade
E o fedor desta pacificidade humana, que não ama, e nem conhece a verdade.


E se sou louco...
Sou louco de versos premeditados
De cobiça desvairada, ambição desonrada
Louco, porque simplesmente eu não fiz nada.


Luciano Andrade PATCHANNS